Verde que te quero verde
Walcyr Carrasco
Quem ande pelo centro da cidade sente falta do verde. Muitas construções são escuras, sem vida. Existem algumas praças, solitárias entre os prédios, o asfalto, os carros. Certas regiões são, francamente, tristes. Já fiquei muito chocado em outras áreas paulistanas. Uma vez, na Zona Leste, andei ruas e ruas sem uma árvore sequer! Dia desses, estava procurando um sebo. Entrei no Viaduto Major Quedinho. Quando estava chegando ao final, tive uma surpresa. Vi um prédio com as paredes cobertas de hera. Foi um suspiro! Olhei o prédio verdejante e disse para mim mesmo:
- Po que os outros não são assim?
Por coincidência, descobri que um ator amigo meu, Gustavo, mora nesse endereço. Pedi que perguntasse quais os segredos de conservação da planta. Nenhum, segundo o zelador. A hera foi plantada em torno do prédio. Basta regar, sem a exigência de maiores cuidados.
Tornei-me um caçador de hera. Aqui e ali, casas e prédios se deixam cobrir. Há um pequeno edifício muito lindo na Avenida República do Líbano, na região do Parque do Ibirapuera. Na rua atrás da Brigadeiro Luís Antônio, dando fundos para o Teatro Abril, uma série de casas também esta verde. No Santo Amaro, a partir do número 3000, há dois ou três endereços.
É incrível como as paredes verdejantes refrescam a paisagem!
Sempre ouço as pessoas reclamarem que a cidade é fria. Não fujo à regra. Costumo colocar a culpa no governo, na prefeitura, seja em quem for.
- Por que não plantam mais árvores? - pergunto.
Botar a culpa em alguma entidade qualquer é mais fácil. Não me sinto obrigado a contribuir. Agora, mudei de opinião. O zelador que cuida das paredes do prédio da Major Quedinhome deu o exemplo. Se é tão simples, porque não fazer alguma coisa pelo verde? Fico imaginando como a cidade seria linda se em algumas ruastodas as casas, muros e prédios fossem cobertos de hera. O Rio de Janeiro é a Cidade Maravilhosa. Brasília, um marco da arquitetura. Muitos lugares são elogiados, fotografados, atraem turistas, justamente porque apresentam uma personalidade especial. São Paulo é uma capital de negócios. Atrai executivos, empresários, que vêm para convenções. Turistas admirados, nunca ouvi falar.
Amo São Paulo. Gosto daqui. Dos restaurantes, do comércio, do movimento, da vida noturna. E, principalmente dos amigos que fiz ao longo da vida. É meu ninho! Ficaria feliz se não fosse definida somente como uma cidade de cimento e concreto. Já reclamei muitas vezes do Memorial da América Latina. A arquitetura é deslumbrante, não nego. Mas é estéril. Falta verde, não possui lugares refrescantes onde a gente possa sentar-se e admirar a paisagem. Nós, paulistanos, temos a necessidade de mais vida entre o asfalto, os muros altos, as grades! Se o Memorial fosse um paruqe com lagos, com um bosque, imaginem o progresso da região entorno.
O exemplo do prédio com hera me fez pensar. Por que não apostar no verde? Em vez de paredes descascadas, ´pr que não cobrí-las com essa planta resistente?Isso impediria as pichações. Os cartazes. Eliminaria a feiúra!
Não sou de dar palpite na administração da cidade. Certamente o prefeito já tem muito no que pensar. Quem sabe, porém, um incentivo fiscal para quem cobrisse a própria residência de hera não fosse bom? Em poucos anos, a cidadeestaria transformada em um parque.
As mudas de árvore plantadas pela prefeitura não seriam únicas. Mas um complemento ao trabalho que todos nós estaríamos fazendo em conjunto. Já plantei mudas de hera ao longo do muro da minha casa. E me sinto feliz por começar!
Autor: Walcyr Carrasco
Publicado em: 27 de Abril de 2005 na Revista Veja São Paulo (Vejinha)
1 Comentários:
vcs vão pensar que comentei pq eu q publiquei, mas ñ eh. imaginem a cidade s/ kazaas velhas e tinta descascada, s/ pichações, s/ cartazes de propaganda ou políticos. a cidade mais fresca, sem aquele-cheiro-de-escapamento-e-poeira. Imaginem e pensem!
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